Tínhamos uma vida acelerada com muitas queixas de diversos prejuízos enfrentados pelo modo de viver na atualidade. Contudo, este jeito foi sendo construído ao longo de um tempo e mesmo no sufoco lidávamos de alguma forma com condições que nos eram familiares. Recursos e habilidades foram criadas a fim de adequar e corresponder aquele ritmo de vida. Assim colhíamos os benefícios e os malefícios.
Embora tendo sido anunciada do outro lado do mundo, a previsibilidade do acometimento pela pandemia não era algo que quem está em um mundo de rapidez conseguisse se ater e escutar.
Quando a pandemia chega, estávamos distraídos em nossos ritmos e fomos retirados dele bruscamente.
É como se tivéssemos que embarcar para uma viagem sem destino certo e sem tempo para arrumarmos a bagagem.
A referência que temos são os antigos dramas da humanidade onde a população ou grande parte dela foi tomada por um inimigo do qual o homem desconhecia ou não sabia como combater. Porém, cada uma destas calamidades ocorreram em tempos diferentes e naturalmente compostos por cenários distintos.
Assim, são referencias, mas não certezas.
Nesta mudança brusca que a humanidade tem vivenciado as consequências não são somente físicas ou econômicas, mas também as psicológicas.
O estado emocional das pessoas esta sendo atacado por diferentes lados: para muitos, o sofrimento pela perda de entes queridos, ou a apreensão vivida constantemente quanto ao risco de pessoas próximas serem contaminadas e sofrerem consequências; a perda de empregos e a difícil situação financeira; as restrições vindas do isolamento social; dinâmicas familiares difíceis que se agravam com os conflitos vividos pelo convívio mais frequente e ou pelas tensões constantes vindas das incertezas e do medo do futuro.
Entre os sintomas mais frequentes estão: a depressão, insônia, ansiedade, irritabilidade, inconstância de humor, abuso de bebidas alcoólicas e ou medicamentos.
Problemas emocionais que com certeza durarão para além do término da atual condição instalada pela pandemia, através de marcas que a situação deixará pelos excessos de carga emocional.
É possível mitigar alguns destes efeitos se as pessoas afetadas tiverem acesso a um cuidado psicológico, dispensado por um especialista.
O sentimento de impotência frente a uma situação tão difícil é gerador de estresse, somando-se a sentimentos de solidão e da ausência de respostas.
Muitas são as pessoas que antes da pandemia já enfrentavam crises importantes em suas vidas e que neste momento foram agravadas. Pessoas solitárias se tornaram mais solitárias, para quem já vivia uma condição financeira difícil, a situação se agravou e conflitos familiares importantes em estado de confinamento tendem a serem insuportáveis.
É importante, no entanto junto a esta reflexão pensar que mudanças como esta de tamanha complexidade também trazem aspectos positivos que podem ser sentidos ao longo do tempo. Uma condição não anula a outra.
Com a desaceleração as pessoas vêm desenvolvendo uma maior comunicação com coisas simples da vida. Foi uma brecada que para alguns, após a recuperação da desordem, podem perceber novos modos de sentir e viver a existência.
O momento exige criatividade, a importância de contar mais uns com os outros, uma maior consideração de diversos recursos e um olhar mais introspectivo. Passamos a valorizar o estar ao sol, o poder ir e vir com liberdade, o abraçar e encontrarmos com pessoas que gostamos. São algumas condições oriundas desta realidade que acabam por positivar o ser humano.
Texto publicado em : 22 de maio de 2020.
Texto de autoria de Rosângela Martins - Todos os direitos reservados
Psicóloga Porto Alegre
CRP 07/05917