Na atualidade os excessos vêm de diferentes frentes exercendo sobre as pessoas uma pressão silenciosa mas persistente. Mais do que as exigências do dia a dia, existe também a crença de que para se estar bem e dormirmos descansados, precisamos atender a estes apelos: estar bem informado ,em dia com a dieta, sucesso no trabalho, frequência nos exercícios, não descuidar da estética, manter em dia o convívio com os amigos, estar presente na família, ter um bom relacionamento amoroso, ter satisfação sexual ... É uma lista interminável.
Esta carga de exigências e excessos levam a um emaranhado aonde as pessoas acabam se perdendo e se complicando.
A fim de atender ao status de bem sucedidas, as pessoas aceleram e desenvolvem atividades compulsivas. Acreditam que acelerando mais, conseguem avançar e ganhar pontos de sucesso. Como consequência apresentam atos impensados e naturalmente um distanciamento da escuta do próprio desejo, bem como de sinais que o emocional e o corpo emitem sinalizando o desequilíbrio.
O nosso organismo tem uma capacidade de compensação espetacular, busca sempre a auto regulação e emite sempre um aviso quando esta sendo pressionado e precisa de reorganização. É capaz de funcionar adequadamente quando respeitado e se desgasta precocemente quando onerado.
Um motivo importante para que os excessos sejam realizados em diferentes âmbitos, é que as consequências negativas das sobrecargas exercidas sobre o organismo, tendem a surgir a médio ou a longo prazo, diferente do prazer com a compulsão, em que a resposta é muitas vezes imediata .
Somente com o passar do tempo é que o corpo através da doença, impõe um limite e começa a sinalizar o quanto lhe custou o exagero.
Outro motivo importante para as repetições e a extrapolação aos limites está ligado à crença de que existe um jeito certo de fazer determinadas coisas, se acomodando em um formato, sem questionar ou até mesmo ter a exata consciência do sentido e o real beneficio daquilo que se está fazendo. Por exemplo: pessoas que exageram em exercícios, trabalho, estudos, dedicação aos outros etc.
Pela repetição, muitas vezes se tornam habilidosas no que estão fazendo, o que gera certo grau de satisfação e deixam de se enriquecer com a busca de novas possibilidades.
Com o passar do tempo, com a automatização, há um esvaziamento do desejo e a pessoa tende a sentir uma falta de graça na vida, um vazio e muitas vezes se deprime.
Frente a esta sensação experimentada e sem se questionar sobre o que esta acontecendo, muitos desenvolvem novos comportamentos compulsivos. Como: comer e beber em excesso, roer as unhas, etc. Uma descarga para o conflito gerador de ansiedade e desencadeador da depressão, que produz um alivio imediato, porém momentâneo, voltando a ressurgir logo em seguida já que sua causa não está sendo identificada.
Somente a capacidade de pensar e sentir a vida é que pode trazer luz a escuridão em que as pessoas são colocadas pelos exageros. É a possibilidade de frear o desatino e trazer sentido a ação e a intenção.
Para integrar questões subjetivas com a realidade é necessário tempo e não aceleração. Com espaços para sentir e pensar é possível dar um significado as vivencias, desenvolvendo um olhar bem mais eficiente e enriquecedor da vida, que não está na quantidade e sim na qualidade emocional e física.
Indicação de Filme:
Nome: Requiem para um sonho
Título Original: Requiem for a Dream
Direção: Darren Aronofsky
Roteiro: Hubert Selby Junior
Ano: 2000
País: EUA
Gênero: Drama
Texto de autoria de Rosângela Martins - Todos os direitos reservados
Psicóloga Porto Alegre
CRP 07/05917