Se a anormalidade emocional em uma criança é complicada de precisar, a normalidade é bem mais difícil de descrever.
O fato de uma criança ter um corpo saudável e ter uma boa capacidade intelectual não define sua potencialidade emocional.
As variações em nível de comportamento são muito amplas no que se refere à normalidade, pois depende de diversos fatores como: idade, cultura, entre outros.
Sendo assim, este não seria o melhor caminho para caracterizar a normalidade em uma criança.
O melhor é levar em consideração o seu desenvolvimento e se este esta ocorrendo de uma forma fluida, apesar dos seus desafios.
O ser humano desde seu nascimento precisa enfrentar inúmeras provas em que a realidade se confronta com os seus impulsos, que são inatos e intensos.
A tarefa não é simples. Neste longo processo existirão boas e más experiências. Sentimentos de gratificação, conforto e confiança e outros de desamparo, medo e dor. Estas experiências serão inevitáveis e necessárias ao desenvolvimento saudável.
Cabe a cada ser humano encontrar dentro de si um espaço aonde crie aos poucos um jeito pessoal de lidar e se equilibrar frente ao meio.
Desta forma, toda criança em seu desenvolvimento apresentará sintomas.
Sintomas são formas adaptativas a determinadas situações. Assim sendo, o sintoma por si só não caracteriza a anormalidade e sim uma tentativa de ajustamento. Uma criança normal pode assim se utilizar de quaisquer recursos provindos de sua natureza para administrar a forte angustia diante algum desafio.
Quando uma criança reprova comer frente à atitude insistente dos pais, que não consideram o tempo de sua fome, esta atitude pode estar revelando uma reação saudável da criança que tenta através de seu protesto preservar sua identidade. Se a situação é mais bem conduzida, à criança abandonará seu sintoma.
Uma criança poderá ter os mais diversos tipos de sintomas, dentro de situações apropriadas.
O fato de uma criança apresentar sintomas pode ser um indicativo da necessidade de um acompanhamento profissional, mas não necessariamente o seja.
Muitas reações explosivas de uma criança derivam de um processo normal de confronto dos desejos e fantasias com a realidade. Uma luta considerada normal e com inevitáveis protestos.
Por este motivo a capacidade de um adulto em passar as regras de convivência de seu meio, de uma forma suficientemente tranquila e sendo capaz de ser empática com a dor da criança, mas mesmo assim sem deixar de desempenhar sua função, é fundamental.
No entanto é importante estar atento quando uma criança apresenta um sintoma de forma persistente, pois deste jeito estaria tentando fazer uma comunicação de algo que não esta sendo escutado e compreendido pelos seus cuidadores, nem conseguindo ser resolvido por ela, nem pelo meio.
Toda criança cria um mundo interior e singular, onde algumas lutas são ganhas e outras perdidas. Mantendo uma condição de equilíbrio oscilante.
Em alguns momentos, neste processo de amadurecimento, seu corpo vai reagir às dores emocionais, apresentando sintomas físicos e isto será normal.
A criança dependendo a idade terá amigos imaginários, medos irracionais, choros súbitos e uma série de comportamentos que estarão expressando uma condição de amadurecimento natural.
A capacidade de uma criança brincar sozinha ou na companhia de outras crianças, com boa capacidade de imaginação, expressa um sinal positivo quanto a seu processo de desenvolvimento.
Texto de autoria de Rosângela Martins - Todos os direitos reservados
Psicóloga Porto Alegre
CRP 07/05917